Você já teve um dia ruim, mas um dia ruim mesmo. Daqueles que a única coisa que passa em sua mente são formas de acabar com toda dor? Eu tenho uma coleção de álbuns de dias assim, estou preste a completar mais um, e sempre me pergunto quando será o último. Qual será aquele álbum premiado que me fará ganhar o grande e desejoso prêmio. Não tenho escrito muito, as pessoas se assustam com a verdade. Todo mundo prefere viver em um mundo onde todas as pessoas são felizes, as tristes só aparecem em noticiários na TV. Então eu me calo, disfarço minhas dores com sorrisos amarelados e comentários inúteis, mas que de alguma forma trazem a falsa sensação de conforto para as pessoas. Ninguém está afim de ouvir suas dores. Engula o choro. Sorria. Foi só um dia ruim, para de ser dramática.
Dizem que a escrita nos liberta, então porque é que me sinto enclausurada em meio a todas minhas palavras. A semana ainda não acabou, e já me sinto engolida. Choro. Escrevo. Apago. Choro. Faço um chá e volto a chorar, algo precisa se desprender de mim, nem que seja as lágrimas.
No escuro oro baixinho pedindo para os céus acabarem com toda essa dor que já não cabe mais em mim. Por muito tempo achei que era egoísmo, hoje vejo minha prece como cura pra mim e para aqueles que estão presos por correntes invisíveis aos meus sentimentos. Não é justo minhas feridas causarem úlceras em quem só quer me cuidar. Então quando tudo se fizer silêncio espero que só fique a lembrança dos dias que meu sorriso fizeram moradia, uma hora a dor vai embora. É o que eles disseram.
Estou partindo aos poucos, talvez assim a dor não seja tão violenta e repentina. Sinto muito por isso, aliás esse é o grande problema. Eu nasci pra sentir muito, mas ninguém me perguntou se queria ser assim, simplesmente sou, e ser assim tem um alto preço que já não consigo mais pagar. Escrevo pra deixar registrado para os céus que eu tentei, mas esse coração de carne cansou de sangrar.
